domingo, 24 de novembro de 2013

Let's save Tony Orlando's house (só mais uma vez)

Alguma sensação de estar viva que eu esqueci, mas é de inverno.
Vento gelado no topo de uma ladeira numa tarde cinza claro indo pra aula. Parece que alguém apertou o "mudo", igual a sonho. Cor e som de lugar nenhum mas eu sei bem que lugar é. Um CD dos anos 90.
Um café tão forte e meio doce milhas e milhas daqui, depois do mar.
Uma pontada aguda no meu coração porque eu quero sentir o cheiro de longe de novo.

E eu acordei assim: como se fosse 7 anos atrás. Com saudade. Apaixonada e em silêncio.


domingo, 20 de outubro de 2013

Sobre o meu pavor e a morte

Acho que eu não sei lidar com a morte.
Até hoje eu não precisei lidar com isso de perto mas eu fico imaginando e essa verdade as vezes paira e deixa o ar pesado, sólido. Podre. Uma notícia uma ponte que explode uma queimadura com um pulo uma coisa que uma hora ou outra vai chegar e a angustia da espera corrói mais do que o fim então por isso que nunca pode ser uma espera.

Lembro da noite em que eu tava deitada na cama com a minhã mãe e então me ocorreu: a gente vai acabar, um dia ela não vai tá mais aqui. E aí que eu fiquei desconsolada chorando por horas, apavorada, aterrorizada com essa ideia que não é só uma ideia. Noite escura e sem ar.

Ontem eu vi um último olhar que eu não sabia que ia ser um último olhar. Ele não sabia que o último dia dele era ontem. Tinha aquela leveza de quem só tá vivendo que eu acho que é o que a gente tem sempre (mesmo que a vida as vezes não tenha leveza alguma).

Fico aqui pensando em todo mundo que já engoliu esse cuspe seco da morte. Penso na minha fraqueza fininha. Um pulmãozinho aberto na água, jorrando de fora pra dentro até sumir... Imagino todo mundo que vive sempre na iminência da violência, onde o sangue jorra e a possibilidade da morte sobrevoa (de helicóptero colorido) todo dia.

Não era nem pra ser assim feio, não sei se é feio. Acho que as vezes nem é. Mas é que a gente só sabe ser vivo. E aí tudo por um triz e então coisa sem vida, murcha, apodrecendo...

"Já viu arruda secando de baixo pra cima?"


Nunca mais esquecer que: o dia mais especial é sempre hoje mesmo.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sobre o meu coração de rodoviária (mas nem tanto)

Hoje eu sentei um pouco no sol da manhã na rodoviária pra comer o meu pão enquanto a cidade ia ligando.
Queria sentir de novo essa coisa toda de ir. Isso que fica aqui pairando nos banquinhos cor de laranja e nas quinas entupidas.
Um pouco de dor e festa. Ir embora pra sempre e chegar.
Um lugar de movimento...

Segue o fluxo no palco viaduto do chá. Só quem tem sangue no corpo é que vai ficá.

Lembrei da madrugada em que fui até aí.
Uma estrada nova, outro lugar.
Eu amei todas as suas luzes e ruas. Todas as suas árvores.
E uma praça de tantas horas perdida entre a cultura racional e o carinho da prostituta falante.
A madrugada indo e então passou a nossa noite suspensa no mundo.
Alguma luz vindo do corredor lateral.
Silêncio.
Respiro.
O seu cabelo no travesseiro do lado do meu e então o seu nome foi parar na minha carta-guardanapo de despedida.
Coloquei um ponto de interrogação junto porque eu nunca sei se só eu lembrando vale alguma coisa.
Mas eu coloquei e agora carrego na minha carteira, perto do meu coração: sempre úmido, só que grande.


sábado, 29 de junho de 2013

Breve anotação nervosa ou: em queda livre

O medo é um sentimento de muita potência.
Impulsiona mais do que congela.
Mais eficaz do que a segurança.
Só não pode ser um estado de espírito.

Sempre achei Blonde Redhead fúnebre e bonito. Que ironia...
"A miséria é uma borboleta."
- É?
- É.

E eu aqui tão alto agora...
Em cima do mar.
Ao menos isso: se eu tivesse que escolher onde acabar seria no mar mesmo.
Sem dúvida.
(e depois do teatro ontem e o dorival caymmi falando de como é doce morrer no mar...)
Continuou chacoalhando por uns minutos que parecia que o relógio tava desmaiando e todo mundo junto.
A gente aqui flutuando.
E depois: silêncio.

Com certeza ia ficar tudo bem.
(mas eu nunca sei com quanta veemência eu devo ter certeza.)

Agora que passou parece bobo.
Mas o medo é um sentimento (o medo é um sentimento?) de muita potência...

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Sobre o lugar redondo e laranja (parte 1.000)


Tem uma coisa assim sobre voltar pra casa ou partir daqui que impulsiona tudo.
Cada coisa no seu lugar.
O Tom não tava me esperando na esquina da rua de terra dessa vez mas ficou tudo bem.
É o jeito que o vento sopra aqui.
Tem isso que fica entre o lindo e o macabro. O horror mora junto mas é por causa de tanto amor e aí o peso da possibilidade da morte e então o horror. Na brevidade. Na saudade.

"Você acredita no horror?"

Eu li isso hoje enquanto esperava em Curitiba.
Curitiba é sempre o meu meio do caminho. É o lugar onde um dia eu já sonhei.
Acho que não é por acaso que eu sempre espero tantas horas amassadas lá.
Tem umas coisas que eu queria conseguir dizer mas eu não sei.
Sobre alguma noite perdida de 99 em Nova Veneza. Aquelas estradas cheias de curvas.
Todos os CDs do meu primo esquecido.
A noite quieta.
É uma coisa sobre o coração encaixar tão bem que nem dá pra falar.
A angustia de novo.
Depois o imenso do mar.
- Mais uma de iodo, por favor.
E agora eu já posso voltar de novo.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sobre aquela sensação do sangue na boca (só que sem sangue agora)


O dia estacionou de novo.
Cheiro gosto cor barulho de nada. Fim de tarde.
Ninguém beijou meu estômago dessa vez. Parece que ele caiu e ficou estendido por ali...
Panela de pressão fazendo o feijão de alguém, luz amarela acesa, a voz do jornal, o cheiro dos xampus nos cabelos limpos dos outros... Todo mundo voltando pra casa.
Queria a minha hoje.
Mas eu sempre me atraso e o último barco já foi.
Aí eu fico sentada aqui olhando pra parede que começou a mofar outra vez.
Sufoquei. Não foquei nada. Passou.

Deve ter sido só esse meu pé inchado e todo o café que eu não devia ter tomado. A saudade de tudo de sempre. O gato que pia baixinho pra eu não esquecer. Mordendo minhas ataduras. Fazendo doer e ficar vivo. Nada de novo. Todas as minhas palavras repetidas. Minha vida em looping.
Não é nada ruim, no final.

Só é tudo de novo.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A raposa na janela


Algumas coisas não fazem muito sentido.
Penso nas suas miniaturas todas enfileiradas organizadas dentro do espelho. Nas suas janelas.
Parece que não se deve escrever sobre amizade porque é de um peso mais estável. E eu que nunca fui das relações turbulentas... 
Você bem sabe que eu sempre me adapto. Sou eu que vou ceder. Eu que me espremo pra passar no cantinho e não embaralhar o rumo das coisas apesar de tudo precisar de uma embaralhada.
Me faz sentido isso.
Eu descobri que sou “uma pessoa cooperativa”. É o termo técnico psicológico. Sei lá.
Olha só, eu tava falando de você e agora to falando de mim.
Acho que é tudo sempre uma boa desculpa.
É só pra dizer que fiquei feliz em te ver bem. 
Gosto das nossas coisas assim. Talvez seja a beleza daquilo que a gente dividiu um dia ou as fotos borradas e o barulho da rua.
Penso na sua armadura pro mundo.
Penso na minha nudez.
Não sei.
Invejo a sua dureza.
Te quero bem.

Tô aqui sentada na minha rede de frente pro mar que eu desenhei, esperando o outono com o colo vago, disponível, macio.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Enxugue o suor do meu cabelo


Eu pari o lar.
E agora eu quero estar em todos os lugares mas carrego essa dor pra sempre
Nossas escolhas de concreto que moram nos ombros
Minha mãe linda e suada
Penso no vento da praia. Aquele barulho nenhum. Tudo onde deveria estar.
Ela lá. O pai no telhado. A Manu na sala.
Eu na rede.
Penso desterro
Choro tudo
Vai tudo bem mas aqui fica o assoalho que range sob o nosso peso só que ainda nem é domingo e eu não quero nem imaginar
É claro que amanhã vai tá tudo bem mas hoje tá comprido