sábado, 24 de novembro de 2018

Dessa vez choveu dentro do sábado quieto

A chuva cai forte
Caminho pela cidade que parece adormecida (apesar dos carros) e acho tudo bonito
O chinelo escorregando do pé mas eu já aceitei me molhar faz tempo
(e não me arrependi)
Desvio das cachoeiras das casas sem calha
Agora molhei até o rosto
A rua forma um morro inclinado e me divirto com a chuva desafiando a ordem da seta:  a seta aponta pra cima e, a essa altura, a chuva já formou um riozinho rua a baixo
A cidade parece uma pintura em movimento (mesmo parada)
Acho que é do futurismo ou qualquer outra coisa veloz
Penso na correria desses dias
Espero que não seja tarde demais pro meu dente que ainda não fui arrumar
Deixei a luz acesa pra parecer mais animado quando eu voltasse
Escuto o mensageiro dos ventos feito pelo meu pai que tá pendurado na minha sacada
Sinto saudade
Me sinto como uns anos atrás nesse cidade: estrangeira
Reviro uns lugares antigos
Eu fico alimentando o meu saudosismo e depois me pergunto por que sou assim
Não chego em nenhuma conclusão
Mas continuo sentindo essa coisa que tá entre um aperto no peito e uma alegria, ambos por estar viva.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Choveu bem no meio da quinta-feira

caminho rápido na avenida
calculei errado o clima como sempre
porque ontem eu passei frio e agora eu tô passando calor
ouço um sonoro bocejo do chaveiro enquanto escuto um sambinha no meu fone de ouvido estragado (funciona um lado só)
ultrapassei um senhor carregando o mundo num carrinho de mão
(e eu nem sei o que eu sinto de tanta coisa).
passo na frente do centro de apoio aos dependentes químicos
parece que acabou de acontecer uma palestra
escuto um "e essa perna aí, irmão? tá zuada fi!"
cheiro de comida chinesa feita por paraibanos em Sorocaba - numa rede de fastfood que com certeza é estadunidense
(minha amiga me contou quando trabalhava aqui)
o mundo é uma coisa lôca mesmo.
agora no ônibus um bebê sorri e tenta comer minha bolsa
no banco ao lado uma mãe cheia de sacolas dorme levinho (enquanto a filha se lambuza com uma coxinha da esquina)
representa todas as mães cansadas & amorosas (ou duras) desse Brasil.
transporte público que chacoalha
marmitex de garagem sem alvará
brechós também.
casas velhas e suas plantas suspensas que eu tanto adoro
um boteco com a bandeira nacional pintada no chão em frente
à espera do que não veio
(o que conhecemos tão bem).
churrasquinho
cachorros rodeando
pebolim (que em Criciúma chama "pacal")
os taxisistas e suas esperas
eu deveria ter feito aquele concurso em 2014
agora eu tô aqui:
tem aula sem professor e tem professor sem aula mas não nos deixam lecionar
parcelei a dívida
peguei chuva
sorri pra uma pomba que pareceu me olhar nos olhos por um segundo
e então eu só continuei

domingo, 29 de julho de 2018

De baixo da lua corre um domingo de vento quente

tem uma coisa que sempre me acompanha
(que eu acho que é desde que eu piso nessa terra)
que é um gelinho no coração e essa mistura de doçura com melancolia
acho que assim como eu gostava de "olhar o vento"
(que te contei hoje enquanto a gente caminhava pela cidade calminha e esquecida mas que eu já tinha te contado antes, porque eu sempre repito minhas histórias)
esse gelinho me acompanha desde que eu me lembro.
as vezes aumenta
em outras fica meio guardadinho
e acho que em algum momento da adolescência ele se materializou numa canção dos smiths (ou pode ter sido killing moon também, só sei que foi alguma coisa dessa época)
e as vezes bate forte
igual agora
quando eu me sinto andando em nuvens
e é gostoso mas também um pouco assustador
(porque eu tenho medo de altura e desse chão desaparecendo)
mas eu tô indo
porque meu coração também fica molinho nessas horas
e eu gosto
acho que isso é o que eu sei ser melhor: um amontoado desorganizado de disponibilidade
& carinho
esse carinho
com gelinho no coração e na barriga
que também parece com estar correndo a noite com baixa visibilidade e um monte de árvores no caminho e
umas luzinhas
mas enquanto eu corro eu gargalho
e me sinto viva
e viver parece essa corrida no escuro
e esse caminhar
e olhar o vento
e essas tardes de domingo.