Acho que eu não sei lidar com a morte.
Até hoje eu não precisei lidar com isso de perto mas eu fico imaginando e essa verdade as vezes paira e deixa o ar pesado, sólido. Podre. Uma notícia uma ponte que explode uma queimadura com um pulo uma coisa que uma hora ou outra vai chegar e a angustia da espera corrói mais do que o fim então por isso que nunca pode ser uma espera.
Lembro da noite em que eu tava deitada na cama com a minhã mãe e então me ocorreu: a gente vai acabar, um dia ela não vai tá mais aqui. E aí que eu fiquei desconsolada chorando por horas, apavorada, aterrorizada com essa ideia que não é só uma ideia. Noite escura e sem ar.
Ontem eu vi um último olhar que eu não sabia que ia ser um último olhar. Ele não sabia que o último dia dele era ontem. Tinha aquela leveza de quem só tá vivendo que eu acho que é o que a gente tem sempre (mesmo que a vida as vezes não tenha leveza alguma).
Fico aqui pensando em todo mundo que já engoliu esse cuspe seco da morte. Penso na minha fraqueza fininha. Um pulmãozinho aberto na água, jorrando de fora pra dentro até sumir... Imagino todo mundo que vive sempre na iminência da violência, onde o sangue jorra e a possibilidade da morte sobrevoa (de helicóptero colorido) todo dia.
Não era nem pra ser assim feio, não sei se é feio. Acho que as vezes nem é. Mas é que a gente só sabe ser vivo. E aí tudo por um triz e então coisa sem vida, murcha, apodrecendo...
"Já viu arruda secando de baixo pra cima?"
Nunca mais esquecer que: o dia mais especial é sempre hoje mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário