segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre as (in)certezas e esse meu corpo que é a minha casa

Acho que ouvi Smiths demais aos 15 por causa de um primo do campo que nunca mais falou comigo e agora todos os meus títulos são uma porra de uma frase.
Mas eu ando menos sistemática. Mesmo não sendo nada romântico eu sempre gostei das certezas. Agora já pari esse filho sangrento e não sou mais obcecada por elas.
Eu tenho só sido.
Eu tenho esse corpo que é meu e que eu posso dobrar como eu quiser.
Não é assim tão saudável mas é esguio e resistente e consegue caminhar bastante. Eu posso ir a quase todo lugar. Quero ir à Cuba e Pernambuco e depois voltar pra Laguna com os pescadores do meu lugar redondo laranja ou só poder sentar sempre na janela enquanto for noite, sem importar que a estrada seja assim tão fodida.

As estradas mais fodidas podem ser as mais bonitas.
Janela escancarada.
Eu to aqui.
Por que eu vim.

domingo, 13 de novembro de 2011

Sobre as cavidades

Tem um homem que eu amo o tempo todo. E tem outros homens e outras mulheres que eu também amo, de certa forma, por uma noite ou duas. Até uma semana. Ou um mês. Eu amo bastante.
Mas eu acabo nunca deixando de amar o homem que eu amo o tempo todo. Mesmo nas noites ou semanas. Ou um mês.

Cabe tudo isso na gente.
Cabe em mim hoje.
A gente muda o tempo todo. Revê. Cavando bem fundo na nossa própria bosta a gente acaba achando e não importam as tripas finas ou as noites sem fim.

O homem que eu amo o tempo todo tem os polegares opositores um pouco fora do lugar e isso faz com que suas mãos caibam exatamente sobre outro par de mãos um pouco menores do que as suas. E que também caibam bem sob o par de mãos menores quase sempre. E que as vezes não caibam em lugar nenhum porque a gente não tem que caber sempre. Caber sempre é uma merda horrenda.

São as mãos de um índio guerreiro e as veias ficam saltadas no verão.

Sinto que de certa forma ele entupiu as minhas cavidades todas com coisas. Eu devolvo com jatos de outras coisas e assim a gente vai dançando essa valsa louca desordenada pelas entranhas do mundo.

São sempre as horas entre nós. As vezes algum sangue. Outros estados. Outros homens e outras mulheres. Mares. Atabaques. As vezes a solidão do Hopper. Algumas coisas rasgadas. Coisas novas. A vida.

À vida.

Não importa como. Mesmo quando a gente tá um pouco perdido e afundado acaba sendo sempre um brinde.
Acho que no final das contas somos um bonito brinde à nos mesmos, que seja.




Enquanto o vendaval não passar sou o seu amante e taco fogo em teu véu.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O (meu) uivo

Assim parada, no escuro, ocupando não mais que 1cm da sala, rígida, fria.
A porra da luz não podia parar de funcionar de manhã?
Hoje. Sozinha pela primeira vez em dias. Talvez um mês. Talvez dois.
Me sinto não mais que uma lagartixa noturna de sangue frio. Tentando não mexer muita coisa pra respirar. O celular em punhos. Pronta pra ligar... pra quem?
Acho que eu consigo tatear o caminho até a cama. E dormir suando devagarinho.
Mas daí uma bicicleta na madrugada e a leveza de uma outra vida, de um outro jeito... a revolução e um vinho. A troca. Sem sangue nos dedos.

Dos gardenias para ti.
Dos gardenias para mí.

Sobre as entranhas e a ferrugem

De repente o quarto encolhe e então tudo parece verdade e eu pareço uma mentira tão fajuta que qualquer um desmascararia. Fica mais calor e eu, mais aflita. Mas ninguém me descobre.
Tem sangue nos meus dedos de novo e eu até gosto do gosto de coisa enferrujada que o meu sangue tem. Parece bicicleta na praia.

Hoje eu sou uma fonte. E estou jorrando. Ainda que a água saia sempre um pouco turva, um pouco preta, um pouco suja...