sábado, 4 de agosto de 2012

O terceiro andar e qualquer banana podre vista daqui de cima


Como qualquer coisa que por melhor que seja depois que derrama fica doce e apodrece se ninguém limpar. O chinês triste do bar, a moça cega da rodoviária ou eu mesma.

Parece que eu tô exatamente em cima de um muro gigante e tão completamente dividida e eu nem sei quais são as opções. Meu paradoxo. E é tão alto que eu nem consigo enxergar mais o que tem de cada lado fica tudo meio embaçado e a chaleira não apita mais.
É que tem uma angustia tão pesada como se não houvesse paz alguma aqui mas é mentira. Eu nunca mais quis isso porque eu cansei da lente suja da melancolia e eu juro que dessa vez eu não quero.
Eu aumentei o som até microfonar e mexi todas as coisas de lugar mas tem uma inércia me prendendo em qualquer coisa que talvez seja todo o meu apego. Um balão que ficou enroscado. Ou engalhado. Porque era sempre assim.
Eu que prendi qualquer coisa que tenha ficado presa.
Também sou eu que tenho que desamarrar.
Casa.
Casa?
Eu não consigo te olhar de frente hoje porque eu não consigo me olhar de frente hoje por alguma vergonha que eu não sei e alguma falta que eu mesma inventei.
As vezes eu escuto eles lá embaixo ou mesmo aqui no telhado e não importa que eu tenha subido pro terceiro andar porque eles sempre me encontram.
Eu tô morrendo de saudade.
De mim também.
Nem que faça todo o vento do mundo que já é muito melhor do que seria sem.
Nem que chovesse o dia todo e molhasse tudo porque minha mão tá tão seca que as coisas tão mesmo começando a rachar pra valer.
Acho que eu tô começando a rachar pra valer porque mesmo que eu nem tenha percebido algum processo começou há bastante tempo e eu só vejo agora que ele tá chegando ao fim: eu consegui. Mas não sei se eu ainda quero.